terça-feira, 30 de março de 2010

Uma leitua de "A Paixão segundo G.H." de Clarice Lispector. Por Larissa Calixto

Nesta resenha farei comparações de trechos do livro com dados biográficos da Clarice, o que atesta hipóteses de ser mais um de seus livros no qual a escritora se personifica.

“Clarice escrevia para celebrar o “eu” e viveu numa reclusa e quase doentia introspecção” (Revista ENTRE LIVROS). A personagem G.H. é levada desde o início do livro por uma introspecção em busca do seu eu através de questionamentos sobre sua conduta ao relembrar o que aconteceu no dia anterior. Primeiramente a personagem se desconhece e afirma que se conhecia pelo o que os outros viam dela, e descreve um determinado medo de descobrir quem realmente é, e perder o mundo que tinha. A personagem fala sobre uma terceira perna que funcionava como um tripé, que a deixava estável, mas a impossibilitava de andar, e que esta perna não era necessária mas sentia falta. Clarice por ser casada com um diplomata tinha uma vida estável, porém tinha suas obrigações como esposa, de comparecer em jantares e festas com o marido. Na entrevista para a TV Cultura Clarice fala do rótulo que as pessoas colocavam nela e afirma não ser isso, podemos identificar o trecho em que ela diz que se conhecia pelo que os outros viam dela, diante ela ter que seguir o marido na diplomacia em até mesmo ter que tomar cuidado com o que escrever para não manchar a imagem do diplomata.

O medo de perder o mundo que tinha pode ser o medo da separação, o medo de como seria ser outro, o outro que ela queria ser. Também o medo de uma nova vida, uma vida instável na qual ela teria que andar para se sustentar, e talvez por conta da dificuldade da época pois o desquite só foi legalizado muitos anos depois (Idéia genial de Diana Landim). A impossibilidade de andar pode ser compreendida também como a dificuldade que ela tinha de escrever durante o casamento devido a tantas obrigações com o marido, como confiramção ao começar a descrever o dia anterior, a personagem G. H. diz que seu relacionamento amoroso havia terminado a pouco e havia ganhado um novo gosto de liberdade.

Quando está no quarto da empregada, G.H. se depara com a mudança que afirma a incomodar fisicamente. Na parede encontra o desenho de uma mão de um homem, uma mulher nua e um cachorro feitos com carvão, no qual a G.H. afirma que a empregada Janair havia lhe retratado, e deduz que a empregada a julgara por toda vida pelos seus pares. Mais á frente G.H. diz que o desenho na parede é a marca quase morta de um G.H. Diante disto lembrei-me que Clarice adquiriu o sobrenome do marido Gurgel Valente, e seu nome antes de vir ao Brasil era Haia Lispector, a marca na parede pode ser Clarice (Haia) seu marido Maury (Gurgel) e seu cachorro Ulisses. ”Uma marca de um G.H. quase morto” (p46) e “Havia anos que eu havia sido julgada pelos meus pares” (p44) indicam a separação na vida de Clarice ou o início desta.

A personagem é identificada apenas pelas iniciais de seu nome G.H. o que abre uma possibilidade de ligação do sobrenome do marido que foi adquirido e seu nome ucraniano, considerando que os escritores são identificados pelo seu sobrenome assim como as normas da ABNT o exigem primeiro, e se Clarice usasse o “C” ao invés de “H” ficaria óbvio que era o nome de casada da escritora.

A personagem fala sobre o medo de sua nova vida, de uma vida sem projetos, sem planos, sem organização, e se questiona quanto ao que era, e o que estava fazendo. No momento em que espreme a barata contra a porta do guarda-roupa talvez esteja fazendo uma metáfora em subjugar outras pessoas de classe mais baixa ou presenciar isso “Uma verdade infame que me fizesse ficar do mesmo nível da barata p.64”. “Cântico de graças pelo assassinato de um ser por outro ser p.86”. “Uma mulher lutando desesperadamente pela sobrevivência p.86”.

G.H. afirma que a vida estava se vingando dela e que a vingança se resumia em começar novamente, assim como uma mulher de idade avançada fazendo seu tricô o deixa de lado, e se põe de quatro chão a engatinhar.

“Adeus beleza do mundo [...] Beleza que eu não quero mais [...] Talvez nunca a tivesse querido mesmo p.87”.

Comer a barata significava uma quebra de padrões, de não ser o que o outro espera que seja, de ter um “novo gosto de liberdade”. A paixão segundo G. H. seria a paixão de ter uma nova vida, o rompimento na cama é um rompimento na vida desta personagem, o de superar o medo de deixar a organização humana, em busca de seus anseios, sem ter planos, sem saber o que acontecerá amanhã, assim como Clarice fez ao deixar o marido voltando para o Brasil com os dois filhos sem aceitar pensão deste.

“Perder-se é um achar-se perigoso” p.106



Ps: O livro inicia e termina com travessões, pode se referir a um continuo de dúvidas e esclarecimentos não só na vida dessa personagem mas, também na vida do ser humano que sempre se encontra com medo do novo, do inesperado que ás vezes se arrisca ou não.

Um comentário:

  1. Bacana o blog Arlene, uma pena ficar abandonado. vi por alto altas coisas de Clarice Lispector, muito legal, admiro muito as coisas q ela escreve.

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