terça-feira, 30 de março de 2010

Resenha crítica do texto Para fazer e pensar uma educação Escolar em Arte. Capítulo 1 do livro Metodologia do Ensino de Arte. Por Frederico Costa

Maria Heloísa Ferraz e Maria Fusari tratam neste texto da prática do ensino de arte na educação infantil e no ensino fundamental, salientando a importância de que se clarifique o que é entendido por arte para tanto. Orientam ainda no sentido de que a arte esteja presente nas aulas de arte e que se cuide de dar uma formação estética consonante com as necessidades e práticas contemporâneas.

Neste sentido, o trabalho de mediação desenvolvido em galerias fornece uma oportunidade ímpar de por em prática um programa de tal tipo, posto que dispomos de material artístico in loco, podendo nos utilizar de produções originais para falar a respeito do fazer em arte, das correntes e concepções estéticas, mediando o diálogo dos estudantes com este universo que pode parecer, e frequentemente parece, distante do cotidiano, uma abstração difícil de conciliar com seus universos e interesses mais imediatos.

As autoras nos chamam a atenção para a centralidade da arte na experiência humana, em como estar no mundo significa estar numa conjuntura cultural que é anterior a todos nós, a qual forjamos e somos por ela forjados. O conjunto dos gostos, nas mais variadas expressões, sejam elas imagéticas, musicais, estilísticas, jogos ou cadências são formados na nossa interação com o ambiente sócio-cultural, em nosso contato com seus produtos de difusão, nas mais variadas mídias. Em nossa lida diária e incessante com essas formas concretas de manifestação cultural nos posicionamos esteticamente e vamos ganhando nosso próprio modo de avaliar e criar.

Quando expostas as obras de arte, são também expostas as visões particulares dos artistas, seu modo próprio de ver e criar/recriar o mundo. Apresentar isso ao público escolar é ampliar suas possibilidades de fazer o mesmo, e a mediação aumenta as possibilidades de leitura e apreensão dessas outras linguagens, dessas outras visões. Quando propomos uma dinâmica, facilitamos uma apropriação dessa nova linguagem, a tornamos mais próxima, se faz possível um relacionamento outro que o da simples contemplação, dizemos que aquilo é acessível e que também lhes é possível uma forma de expressão que talvez não lhes seja usual.

Outra das propostas das autoras é de que ao apresentar conteúdos artísticos o façamos de modo gradual, inserindo informações sobre a história da arte e sua articulação com outras influências culturais e de seu desenvolvimento conjunto com a história humana, nosso desenrolar político-cultural, e mesmo pessoal. Dar um panorama de inserções da arte para que possam perceber onde ela se faz presente e influente na sua própria trajetória, em sua constituição subjetiva. O que queremos conservar conosco e o que mudar, fazer da arte um instrumento pessoal, tendo em vista que para além disso, ela tem importância em si mesma.

A mediação é apontada como um trabalho fundamental dos professores, que devem ter em vista o desenvolvimento das capacidades cognitivas dos estudantes e adequar as matérias de ensino a elas, estabelecer uma unidade de objetivos entre o que se quer ensinar e o que eles querem aprender. Trabalhar para se chegar à um método eficaz de assimilação de conhecimentos. Por certo, o mesmo é válido para os mediadores em arte propriamente ditos, que idealmente devem contar com o apoio dos professores que tenham um conhecimento mais desenvolvido a respeito dessas questões da turma que orientam, de modo a tornar mais proveitoso o momento da mediação.

No entanto, temos ferramentas para uma aproximação com os estudantes que pode nos ajudar o orientar os caminhos que a mediação deve tomar, como procurar saber quais são suas referências estéticas, seus gostos e hábitos, ou questões técnicas, como cores ou momentos históricos. Algo que traga o objeto de estudo para um ambiente mais familiar, ajudando-os a traçar um paralelo entre o que se conhece e o que está sendo apresentado. Desmistificar a arte, como algo distante ou não-compreensível, é o que está por trás de ensinar arte, mediar a arte.





Frederico Costa

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