terça-feira, 30 de março de 2010

Mediação, Educação e Cultura Visual: uma breve reflexão sobre as propostas de Fernando Hernández. Por Anderson Magalhães

Nesse texto pretendo pensar a atividade de mediação dentro da galeria de arte como uma prática educacional complementar da vida escolar dos alunos, não só como uma forma de aproxima-los das obras de arte e do ensino de arte como também uma forma de se desenvolver e analisar questões voltadas ao vasto campo da cultura visual. Isso tendo como base as propostas apresentadas pelo autor Fernando Hernández nos capítulos cinco e seis de seu livro Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho.

O capítulo cinco se intitula A pesquisa sobre a compreensão: a interpretação como chave da educação escolar, e partira de concepções construtivistas sobre conhecimento e educação, abordando questões sobre desenvolvimento humano, apreciação estética e arte na pós-modernidade. As idéias construtivistas dizem respeito a noção de conhecimento não como uma coisa a ser apenas transmitida, mas como uma relação dialética entre o que conhece (sujeito) e o que é conhecido (objeto), instituído em um processo socio-histórico-cutural. Em relação as noções de desenvolvimento cognitivo, Piaget acreditava que a inteligência humana passa por estágios de desenvolvimento lineares, ascendentes e universais, esse pensamento já criticado desde os anos 70 passou a ser relativizado de acordo com o contexto cultural e encarado de forma complexa, e não mais como fases bem delimitadas. O conceito de conhecimento artístico também sofreu modificações, e passou a ser analisado como parte fundamental do conhecimento humano principalmente como uma forma de decodificarão e leitura de símbolos culturais, levando em conta tanto a produção das obras de arte como a compreensão dessas. A apreciação estética entendida como uma forma do desenvolvimento cognitivo, pode revela formas socialmente construídas de percepção do belo e a origem de certas referências culturais, que surgem a partir do questionamento e do dialogo sobre obras de arte ou imagens em geral. A pesquisa de Parsons apontada no texto de Hernández mostra cinco etapas diferentes de apreciação estética, que vão desde as percepções básicas da imagem (representação) até o cume do processo que seria a interpretação autônoma do indivíduo frente a imagem, essas etapas são: 1-favoritismo, 2- beleza e realismo, 3- expressão, 4- estilo e forma, 5- autonomia. Em meio as discussões sobre ensino de arte não poderia faltar as questões que envolvem o momento histórico em que vivemos, a contemporaneidade, também chamada de pós-modernidade. “ Tal como o formula Hargreaves, o pós-moderno pode ser considerado um fenômeno estético, cultural e intelectual que abarca um conjunto concreto de estilos, práticas e formas culturais nas artes plásticas, na literatura, na música, na arquitetura, na filosofia e no discurso intelectual em geral – pastiche, colagem, desconstrução, falta de linearidade, mescla de períodos e estilos, etc.” É muito importante se refletir sobre o conceito de pós-modernidade, pois isso influenciar todos os campos do saber gerando novos paradigmas no conhecimento. A arte passa a ser a representação de significados culturais e sociais , ganha assim um vasto campo para a livre interpretação, já que em um obra de arte não há mais verdades absolutas e tudo dependera do olhar que se lança sobre ela de acordo com o contexto em que se vive. Como ponto central desse capitulo cinco está a noção de interpretação como chave para a educação. ”Interpretar é, portanto, decifrar. Implica decompor um objeto (representação) em seu processo produtivo, descobrir sua coerência e dar aos elementos e às fases obtidas significados intencionais, sem perder nunca de vista a totalidade que se interpreta”. Entendida dessa forma a interpretação exige do indivíduo buscar em suas experiência pessoais significados que possam ser associados ao que ele esta vendo, essas associações colaboram para que o indivíduo complete o que ele já conhece com o novo conhecimento adquirido de acordo com suas necessidades e seu contexto socio-cultural, tornando-se um ser autônomo capaz de pensar e recriar seu próprio mundo, que me parece ser o grande objetivo da educação construtivista como um todo.

O capítulo seis intitulado A importância de aprender a interpretar a cultura visual, analisará o conceito de cultura visual como sendo um campo transdisciplinar, que envolve não só a materialidade dos objetos culturalmente produzidos, fotos, cartazes, vídeo, prédios, roupas, como também seu valor imaginativo e simbólico dentro dos variados contextos sociais. “O que foi dito até agora me leva a destacar que, atualmente, a cultura visual é importante não só como objeto de estudo, ou, partindo da proposta apresentada neste livro, como uma parte fundamental do que hoje se aborda na escola. É importante também em termos de economia, negócios, e de novas tecnologias, assim como receptores se possam beneficiar de seu estudo. Nesse sentido, além do prazer do consumo, um estudo sistemático da cultura visual pode proporcionar-nos uma compreensão crítica de seu papel e de suas funções sociais e das relações de poder às quais se vincula, além de sua mera apreciação ou do prazer que proporciona.” O autor esboça o objetivo de criar junto com o ensino da cultura visual uma espécie de “história dos olhares”, envolvendo nessa proposta a analise crítica das diversas formas de se olhar um objeto, formas essas que variam de acordo com o contexto histórico, cultural e social, e que portanto, servem de referência para entendermos como nosso próprio olhar se constitui e como isso interfere em nossas relações humanas. Para isso Hernández leva em conta todas as modificações atuais da sociedade globalizada em que vivemos, e destaca pontos como: “ A expansão, cada vez mais global, da informação e das fontes de conhecimento. As mudanças crescentes no mundo e nas formas de entende-lo. O contato crescente entre indivíduos, crenças e culturas devido às migrações. A relação mais forte e interativa entre pesquisa e desenvolvimento social devido a rapidez das comunicações.” Essas novas condições sociais exigem da escola novas posturas para com o conhecimento. Umas das importantes questões levantadas pelo autor nesse capítulo envolve a problemática de como transformar a arte uma ponte para a educação já que aparentemente ambas assumem posturas antagônicas? A arte é uma forma de representar o mundo e a educação uma forma de organizar conhecimentos de acordo com formas socialmente aceitas de representar o mundo. A questão, portanto, gire entorno de associar uma forma de criação livre com uma instituição de cunho normalizante. Dentro dessa nova proposta a arte assume papel de produtora de representações sociais, dessa forma sua importância já não se vincula apenas ao desenvolvimento da apreciação estética, mas também ao estudo histórico, sociológico e antropológico de determinados períodos, uma novo caminho para se interpretar o desenvolvimento das sociedades. Hernández da grande importância em suas propostas curriculares para a concepção de aprendizado como um processo que envolve a construção da subjetividade individual e a construção social do conhecimento, assim a educação se aproxima da idéia de arte ao ganhar nessa proposta não apenas uma função de transmitir certo conteúdo entendido como fundamental par a vivência social, mas também se torna uma produtora de conteúdos que partiram dos próprios educandos como seres ativos no processo de aprendizagem. Para tal empreendimento se destaca o dialogo como instrumento de troca de impressões e problematização da realidade, buscando sempre tornar o conteúdo a ser estudado algo atual e útil a vida cotidiana.

O autor Fernando Hernández desenvolve suas propostas educativas pensando em um contexto escolar. Procurarei associar essas idéias ao contexto da atividade de mediação, que também é um trabalho de cunho educacional, porém, fora do espaço escolar. O trabalho de um mediador apesar de ser voltado para obras de arte dentro de uma galeria vai além do mero ensino de arte, aproximando-se muito mais do que foi apontado por Hernández como cultura visual. No trabalho de mediação não vale apenas falar dos aspectos formais das obras de arte, nem se prender ao discurso convencional da história da arte que sempre destaca os grandes nomes e movimentos artísticos. Parece-me que o objetivo das mediações com escolas não é tornar os alunos artistas plásticos ou críticos de arte, e sim possibilitar a eles instrumentos de interpretação que os ajudem a trazer de dentro das obras de arte conhecimento útil para pensarem o mundo e suas próprias práticas sociais. Sempre levando em conta o fato, destacado por Hernández, de que os alunos já trazem consigo uma bagagem própria de conhecimentos e experiências que os possibilitam interpretar o mundo de acordo com seus contexto pessoal. Isso deve não só deve ser considerado como utilizado dentro das mediações como ponto inicial de um dialogo que se pretende construtor de novos significados a partir da (re)interpretação das obras da galeria. O dialogo e o questionamento permitem descobrir dos alunos suas opiniões e suas referencias simbólicas e culturais. Que por fim servem de ponte de contato entre a arte que lhes está sendo apresentada e o contexto socio-cultural dos alunos. Instigar o pensamento significa exigir dos alunos um posicionamento crítico em relação ao que estão vendo, dando a eles sua própria margem de interpretação e de participação na construção dos possíveis significados simbólicos da arte, isso é o que Paulo Freire chamava de desenvolver a curiosidade epistemológica, que gera criação de significado. Por tanto, em um contexto contemporâneo de um mundo globalizado onde as imagens se tornaram tão banais que os indivíduos são bombardeados por elas vinte a quatro horas por dia, assumindo quase sempre a postura passiva de meros receptores, o trabalho fundamental do mediador é sondar o contexto socio-cultural dos alunos e instiga-los a buscar problemas e respostas para o mundo em que vivem a partir das obras que estão conhecendo, é assim que a arte trona-se útil e atual para esses indivíduos, assumindo enfim uma utilidade indispensável a educação contemporânea. É assim que Fernando Hernández define cultora visual e o trabalho de mediação: “De nossa parte, a noção de cultura visual corresponde às mudanças nas noções de arte, cultura, imagem, história, educação, etc. produzidas nos últimos 15 anos e está vinculada à noção de mediação de representações, valores e identidades. A educação da cultura visual, assim apresentada, participa da tarefa que Debray atribuiu como objeto de estudo da Medialogia, ou seja, a disciplina que tem por tarefa explorar as vias e os meios da eficácia simbólica, centrado-se, portanto, no papel mediacional dos meios (os objetos artísticos serão alguns entre outros objetos e artefatos do universo visual).” Pensando dessa forma, a prática da mediação se vincula diretamente ao campo da cultura visual.





Anderson Magalhães.

Um comentário:

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