quinta-feira, 25 de março de 2010

Comentários sobre o livro “A mulher que matou os peixes” (Lispector, 1974). Por Diana Landim

Em A mulher que matou os peixes , Clarice tem uma história triste para contar: como ela, que tanto ama as crianças e os animais, matou os peixinhos. Para mostrar que a morte dos bichinhos ocorreu por descuido e não por falta de amor, ela narra vários episódios de sua vida ao lado dos animais. Tudo, situações verdadeiras – palavras da autora.
Como a história de Lisete, uma “miquinha” que usava roupas e brincos mulher, comprada por Clarice em uma feira. A bichinha foi levada para casa, entrou para a família, mas logo ficou doente e faleceu. Como lição para as crianças, fica a idéia de que não se deve comprar animais em feiras.

Ao pensar no nome dos animais/personagens do livro é possível perceber um traço recorrente no trabalho da escritora: a relação entre o nome dos animais e a intimidade que se tem com eles. Em “O crime do professor de matemática” (Laços de Família), Clarice relata que ao escolher um nome de gente para um animal está, na verdade, dando uma alma a ele. Jack, Bruno, Dilhermano são nomes com os quais foram batizaram os cães do livro.

No texto, podemos perceber traços da Clarice maternal que acha fácil escrever para crianças. A linguagem que utiliza está entre a fala de uma mãe que conta histórias para seu filho – explicando-lhe coisas do mundo – e fala própria de uma criança. O que demonstra a sensibilidade dela ao universo infantil.

“Morar numa ilha para sempre é triste, porque a gente não quer se separar da família e dos amigos. Mas não precisamos morar lá. Basta passar o sábado e o domingo” (Página 59).



É importante ressaltar como, ao longo do livro, são inseridas “lições de

vida” para as crianças. Assim, depois de contar que o “dedetizador” é o homem que mata baratas, que a antiga dona do seu cachorro batia em animais e que o perfume que ela usa foi inventado por alguém, Clarice conclui que existem pessoas que faze todo tipo de coisa. Tem gente que bate em cachorros, tem gente que não bate (Clarice). Tem que mata baratas e tem quem faça perfumes. Logo, as crianças entendem que existem muitas coisas diferentes para elas fazerem na vida. Não lhes faltam opções.

Assim como nas “Páginas Femininas”, a característica de formação de um futuro público acostumado com o estilo “clariceano” também está presente no livro infantil. Como por exemplo, o uso de antíteses - tão freqüente nos romances – pode ser percebido no episódio trágico no qual um cachorrinho, brigando com seu melhor amigo canino, fere-o mortalmente. Fato esse descrito por Clarice como uma história de “amor e ódio em um só coração” (palavras da autora).

Como nas revistas, Clarice bate-papo com as crianças, pedindo sempre sua opinião. Preocupa-se em deixar claro que não matou os peixinhos de propósito. Pergunta sempre aos leitores, se nós acreditamos nela, nos convida para fazermos um lanchinho em sua casa e finaliza o livro nos pedindo perdão pela morte dos peixinhos.



* Trecho destacado do livro (ao explicar os motivos pelos quais as baratas ficam tanto tempo sem aparecer em sua casa depois do trabalho de um dedetizador):



“Mas parece que uma barata, antes de morrer, conta baixo às outras baratas que minha casa é perigosa para raça delas e assim a notícia se espalha pelo mundo das baratas (...)”.

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