quinta-feira, 25 de março de 2010

Resenha crítica dos capítulos 1 e 2 de "A Educação pela Arte", de Hebert Read. Por Rosângela Vieira

Essa é uma resenha crítica dos dois primeiros capítulos do livro de Hebert Read: A Educação pela Arte. Minha idéia de resenhar criticamente esse texto foi a de responder, ou tentar iniciar concretamente uma resposta a um impasse pessoal freqüente: Qual a importância real, visível, da visita das galerias do CCBB por parte de alunos e professores de escolas públicas do Distrito Federal? Uma resposta direta dessa pergunta contribuiria, melhor, definiria uma mediação de qualidade e causaria impacto na visão desses alunos quanto à importância da freqüência deles nesse ambiente. Até hoje, a escolha pessoal do curso de artes plásticas, a admiração pela história da arte faz da análise de sua importância algo íntimo para mim. Minha vivência e experiências, os valores e ideais de cultura e educação passados para mim por meus pais, valores esses que determinam a proximidade com pessoas de meu convívio, parece-me pessoal demais e quase intransferível. Seria então essa a questão? Como transferi-los? Não estaria eu tornando tais valores classe média brasiliense como ideais? Seria prepotência acreditar que minha crença da arte como elemento básico de cultura, e a cultura em si, no sentido de conhecimentos gerais(1) , é algo absoluto e relevante de fato para a educação e, portanto, crescimento, do país? Não apenas pelo conteúdo desse livro e de todos os mais de Arte que já li, também pela própria função que desenvolvo dentro das galerias de arte, pelo simples fato dessa galeria existir, percebo que a prepotência seria achar que tal pensamento sobre a importância do estudo da arte seria apenas de minha classe média brasiliense ou afins. Resenhando esse texto, venho direcioná-lo às respostas de meus próprios anseios, principalmente quando, durante minha visita, em frente aos "meus" alunos, tento instigá-los quanto à importância da visita deles perguntando: Por que uma instituição financeira como o Banco do Brasil disponibiliza uma galeria de arte para visitação pública? E oferece serviço de mediação? Por que sua escola agendou essa visita? Como essa visita pode funcionar como elemento aglutinante de vários outros conhecimentos culturais que tenham, análise do cotidiano, das imagens da cultura visual e mesmo de outras visitas ao próprio CCBB e outras galerias de arte?


(1)Quando falamos "cultura" referimo-nos, basicamente, a dois pensamentos comuns: o primeiro que a trata como manifestação social de determinado local, região, ano, pensamento. A segunda maneira vem como abrangência de conhecimentos, algo valorizado socialmente, admirado e até como objeto de desejo, como dizer que alguém é culto, ou que tem muita "cultura". Não se pode, entretanto, ser deixado de lado o caráter cultural em que todos, sem exceções estão incluídos e são, inclusive, formadores dele. Por isso imaginar que qualquer aluno, dos mais carentes ao mais afortunados, tanto financeiramente quanto cognitivamente, seja excluído culturalmente, trata-se do segundo pensamento quanto à "cultura". Creio que analisar e criticar a ambigüidade dessa palavra e como os alunos percebem-se no uso dela, também é ferramenta disponível, porém pouco utilizada durante nossas mediações.


Espero desse livro, pelo próprio título dele, que me venha responder objetivamente como o uso da arte, sua história e imagens, bem como técnicas e artistas deve não apenas auxiliar ou ser parte de uma educação de qualidade, mas ser a base dela. Se o autor responder à isso, saciará, enfim, a importância do uso das galerias de arte feito pelas escolas.





Para isso, o livro de Hebert Read parte de uma tese original de Platão, quando esse afirma justamente que a arte deve ser a base da educação. A intenção do livro é, portanto, reler e reconsiderar tal teoria e levantar formas "diretamente aplicáveis às nossas atuais necessidades e condições" de estudo dentro das escolas e outros ambientes educacionais. Para isso, o autor necessita apontar o entendimento por Educação e por Arte para viabilidade da tese. O discorrer do argumento do autor parte de duas premissas muito interessantes que ele define como hipóteses da função da educação: 1) a educação tem como função tornar o homem o que ele é; 2) tornar o homem o que ele não é (Paulo Freire). Isto é, identificar e desenvolver as potencialidades "boas" de um indivíduo, a segunda, identificar e erradicar as potencialidades "ruins" do mesmo. A partir disso, um pensamento do que seria, afinal, bom ou mau, é levado em consideração. A bondade e a maldade consideradas como algo natural é baseado, pelo autor, na "hipótese mais ampla na criação evolutiva". Dentro disso, considera-se que no mundo animal, o bem e o mal não existem, e é, portanto a noção de bondade que impera num estado natural de inocência. O ser humano, que se tornou dotado de autoconsciência e consciência de suas relações com outros seres humanos autoconscientes, desenvolveu faculdades intuitivas às quais damos o nome de "qualidades morais". Pessoalmente, percebo esse termo que ele usa como "faculdades intuitivas" como "(in)consciente coletivo". Nesse trecho do livro, o relacionar do desenvolvimento desse termo com "Cultura", ainda não é especificado, já que a amplitude é intenção dessa introdução. Desse ponto de vista, as características morais determinadas como bem e mal não são biológicas. O bem é tido aqui como tendências que respondem pela unidade orgânica das associações humanas e, mal, tendências que destroem essa unidade.

Outra hipótese trazida para delimitar esse pensamento seria uma mais antiga que a da criação, a que dita o homem como natural e invariavelmente mau, base do pensamento cristão, que posiciona Deus como esperança única de bondade ou beatitude. O que concebe a Educação como disciplina moral- religiosa. O autor adota, como base para definição primeira de educação, a neutralidade entre as concepções de bondade ou maldade, definindo que o Estado Democrático deve visar por um ideal educacional que descarte a uniformidade, que preze o individualismo, a variedade e a diferenciação orgânica. Surge um dilema quanto aos aspectos sociológicos do papel e responsabilidades do educador. A resposta para esse dilema é apresentada junto à definição utilizada pelo autor de Educação, definição essa necessária para o discorrer sobre a tese de Platão: A Arte deve ser a base da Educação. E logo após essa primeira definição, a que se segue será, o que é arte.

Definir o que é arte e porque é arte já foi (e continua sendo) tentado por muitos, mas a problemática dessa definição aqui parte mais de um levantamento sobre como Platão tratava a Arte. Para estudantes desse ramo e os estudantes de história e filosofia(2) , por exemplo, um primeiro pensamento sobre a relação de Platão com arte seria que esse a veria num nível inferior às nossas percepções comuns, como uma imitação da imitação. Isso porque a idéia seria o original de todas as coisas, o mundo que vemos é apenas a sombra das idéias. A arte seria uma reprodução de terceiro grau: a verdade é o mundo das idéias, o objeto é fruto dessas idéias, portanto uma reprodução desse produto seria a arte, então, a 3ª reprodução. A partir desse momento, a definição de educação e arte para o autor será base do desenvolver da tese em questão.

To be continued...



(2)Aqui tive a prezada colaboração de meus colegas Ricardo e Anderson, discutimos juntos por alguns momentos que se prolongaram além da galeria para os minutos de estudo a peculiaridade do uso dessa tese, já que Platão é visto como um "não simpatizante", em primeira instância, das artes, ao menos das plásticas ou visuais.





Curiosidades



Pontos levantados em algumas discussões com Ricardo e Anderson (ambos mediadores da exposição Gerard Fromanger – A imaginação no poder, o primeiro, estudante de Filosofia pela UnB, o segundo, de História):



Nietzsche : denominação da verdade é criada culturalmente, socialmente, historicamente.

Platão: visão do Platão sobre arte. Um nível inferior às nossas percepções comuns, imitação da imitação. O Mito da caverna: tecnologia e seus meios podem ser relacionados com quase que um culto à caverna, o registro para posterioridade. A arte com meio de alcançar uma realidade ideal.

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